Nereidas e a autoimagem ameaçada
Mitologia Grega

Nereidas e a autoimagem ameaçada



Nereu era um deus marinho mais antigo que Poseidon. Descrito como um velho pacato, justo, benévolo e sábio, ele representava a calma e a serenidade do mar. Descendente de Gaia e Pontos, seu reino era o Mar Egeu onde era conhecido por suas virtudes e sabedoria. Tinha o dom da profecia e a capacidade de mudar tanto a sua aparência quanto a de quem lhe pedia.

Representado como um deus do mar com cabelos e barba longos carregando um tridente, Nereu casou-se com Dóris que era uma das filhas de Oceanus e Tétis. Ele foi o pai de Nerito e das muitas Nereidas que alguns autores citam quase 100. As Nereidas mais conhecidas eram Galateia, Anfitrite e Tétis que era a mãe do herói Aquiles. Elas tinham belos cabelos longos entrelaçados por pérolas e cruzavam os mares sobre os golfinhos ou sobre os cavalos marinhos.

Às vezes eram representadas como sereias, metade peixe-metade mulher, mas igualmente belas e sempre portando uma coroa feita de corais do mar. Faziam parte do cortejo de Poseidon, o deus dos mares, junto com os Tritões que eram a personificação masculina das sereias. Veneradas como ninfas do mar, gentis e generosas, elas estavam sempre de prontidão para ajudar os marinheiros em perigo no Mar Egeu. Personificavam as ondas e, por sua beleza e vaidade, costumavam dominar o coração e a fantasia de muitos homens.

Certa vez a rainha Cassiopeia do Reino da Etiópia, uma mulher excessivamente presunçosa, ousou se vangloriar que sua filha Andrômeda era mais bonita do que as filhas do deus Nereu. As Nereidas sentiram-se ofendidas pela arrogância da rainha e pediram a Poseidon que punisse a rainha e seu reino. Em resposta ao apelo das Nereidas, Poseidon enviou um monstro marinho chamado Cethus para atacar o reino da Etiópia.

Desesperado o Rei Cepheus consultou o oráculo para saber o que poderia fazer para livrar-se do monstro. O oráculo predisse que ele deveria oferecer sua belíssima filha em sacrificio ao monstro do mar e assim a princesa Andrômeda foi acorrentada em um rochedo na costa do Mediterrâneo, onde hoje está a cidade de Tel Aviv.

Esperando que fosse devorada pelo monstro, Andrômeda gritou por socorro. Ouvindo seus gritos, o herói Perseu que retornava de sua jornada em busca da Medusa foi socorrê-la. Quem olhasse os olhos da Medusa era transformado em pedra. Lutando contra o monstro Perseu mostrou os olhos da Gorgona e transformou o monstro Cethus em corais, os adornos preferidos das Nereidas para os seus cabelos.

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O mito das Nereidas serve para ilustrar o mal estar que as pessoas sentem quando percebem que sua autoimagem está sendo ameaçada. Isso gera ansiedade e insegurança tendo efeitos em vários níveis na vida de uma pessoa. Quase sempre provoca uma reação que pode chegar a extremos: a pessoa pode isolar-se, retrair-se ou pode encorajar a comportamentos compensatórios.

Para vivermos de fato, temos de achar a vida satisfatória e ter uma autoimagem com a qual possamos conviver bem com ela. O Eu não pode envergonhar de si ou tentar ocultá-lo. Quando reconhecemos as nossas fraquezas mas também os nossos pontos fortes, formamos uma autoimagem positiva a respeito de nós mesmos. Enquanto nossa autoimagem está segura, sentimo-nos bem, temos mais autoconfiança e sentimo-nos livres para nos expressarmos e ser nós mesmos.

Porém quando sentimos vergonha da nossa autoimagem, procuramos ocultá-la de algum modo para não nos sentirmos inferiorizados e diminuidos. Muitas pessoas sofrem de Dismorfofobia, uma percepção imaginária de algum defeito físico que só existe numa autoimagem distorcida. Exemplos são as cirurgias plásticas muitas vezes desnecessárias, o uso exagerado de cosméticos, dietas inconsequentes, uso de roupas que escondem a forma do corpo etc. Daí vem os sentimentos de auto-rejeição, inadequação, vergonha, tristeza e outros transtornos como bulimia e anorexia. E como surge isso?   

Essa autoimagem distorcida pode ser gerada por uma baixa auto-estima decorrente de uma infância deficiente de atenção, carinho e aprovação que dá origem a uma autocrítica destrutiva mas também pode ser agravada pelos padrões de estética, beleza e sucesso impostos pelos meios de comunicação. Vivemos numa sociedade onde a cultura da aparência, da beleza e da jovialidade adquire conotação de aceitação, inclusão e adequação. Não ser bela, não ser sexy e não parecer jovem equivale a ser rejeitada, inadequada e excluída.

O mercado vive da insatisfação de pessoas insatisfeitas. As revistas de moda e empresas de cosméticos vivem por oferecer produtos que prometem beleza e rejuvenescimento. A moda coloca as roupas em meninas lindas e magérrimas, enquanto comerciais vendem shakes emagrecedores. Meninas saradas aparecem nas revistas e na televisão, não para fazerem os homens babarem por elas mas para que as mulheres acreditem que é isso que os homens desejam.

O "ter" tem sido valorizado mais do o "ser", ainda que tenhamos aprendido que o mais importante é a essência. Os comerciais e programas de tv só mostram pessoas lindas, ricas, bem sucedidas e alegres. Tudo isso acaba gerando uma comparação que leva à auto-rejeição. Esse é o melhor jeito de convencer as pessoas a comprarem, dizendo que elas são feias, mal sucedidas e infelizes.





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