Apolo e Marpessa, aprendendo a perder
Mitologia Grega

Apolo e Marpessa, aprendendo a perder





No tempo em que os deuses do Olimpo ainda desciam à terra em busca do amor das belas mortais, Apolo tinha tudo para ser o mais cobiçado. Além de ser a divindidade responsável pela cura das doenças e dos ferimentos, Apolo também presidia tudo o que se referia à música, ao canto e à poesia, sempre na companhia das musas.

Apolo tinha a figura serena, que era a encarnação do equilíbrio harmonioso entre o intelecto e a beleza física. Os artistas sempre o representaram como um homem jovem, de porte atlético, com feições refinadas e um semblante inteligente - um verdadeiro modelo de beleza viril. Era difícil imaginar que alguma mulher, pudesse resistir a um homem assim.

Marpessa era uma princesa de extraordinária beleza e Apolo se apaixonou tanto por ela que, numa atitude sem precedentes, pediu-a em casamento. Porém Idas, um principe que era apenas um mortal, também tinha feito o seu pedido de casamento.

Como era inevitável, os dois rivais se defrontaram. Apesar de desigual, a terrível luta chamou a atenção de Zeus que se viu obrigado a interferir na briga dos pretendentes. A princesa Marpessa foi incumbida de escolher com quem se casaria e surpreendentemente ela escolheu Idas.

Questionada porque teria rejeitado o deus Apolo, ela disse que não poderia ser feliz ao lado de um deus tão cobiçado e tão célebre em toda a Grécia, além de que temia ser abandonada pelo deus quando ficasse velha.

Apolo retornou para o Olimpo, derrotado e inseguro, inaugurando o mote que os homens despeitados repetem até hoje quando se sentem preteridos ou trocados por alguém que consideram um rematado cretino: "É a velha queda que as mulheres têm pelos tolos!"


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O mito de Marpessa e a rejeição de Apolo retrata aquelas mulheres que se casam com homens brilhantes e criativos, mas que em alguns casos são castigadas por sua ousadia. Ele quer ser sempre o grande vencedor e aos poucos, ela vai percebendo que viver ao lado dele é um presente magnífico mas que se deve pagar dia-a-dia com o próprio aniquilamento.

E quando uma mulher percebe a poderosa armadilha e a rejeita, o consolo do eterno ressentido é
combater aquele que ocupa o lugar antes por ele pretendido. Assim, desfazem qualquer qualidade do seu rival devido à sua própria insegurança e pelo que consideram uma terrível derrota. O mito revela que as pessoas não são educadas para perder.

Geralmente os pais, logicamente com boas intenções, exaltam muito as vitórias e incentivam os filhos sempre para ganhar e ganhar. E nessa cena corriqueira e aparentemente inocente, esconde um dos grandes pecados da educação: incentivar a criança a sair-se sempre campeã não é uma boa maneira de prepará-la para o mundo.

Educar também é preparar a criança para a vida, na qual enfrentará o doce sabor da vitória e o amargo sabor da derrota. Ensinar à criança a perder é essencial para sua formação. Uma criança que não tem a oportunidade de sofrer uma derrota não vai saber lidar com as frustrações da vida, que sempre nos propicia momentos de altos e baixos.

Perdemos a hora, perdemos o ônibus, perdemos um amor, perdemos um emprego. Tudo isso faz parte da nossa formação. Saber lidar com isso é o que faz a diferença. Num primeiro momento, é comum associar a derrota ao sentimento de fracasso. Porém, a dimensão que esse fato terá na vida dependerá da maneira como se administra a situação.

Perder será inevitável no jogo da vida, motivo mais que suficiente para que os pais auxiliem seus filhos, desde a infância, a administrarem os sentimentos esperados quando tal fato ocorre. Além disso, ao não sagrar-se vencedor, tem-se a oportunidade de descobrir outras maneiras de se satisfazer. Se não tiver limites, a criança não aprenderá a ser tolerante com os problemas que irá enfrentar na vida. É importante aprender que os jogos tem regras e saber superar a decepção.

Querer vencer é algo positivo que incentiva e funciona como um desafio para buscar sempre melhorar o desempenho. No entanto, é fundamental aprender a competir, valorizar a competição e não somente o resultado. Jogar e competir tem muitas vantagens e perder é inevitável. Os jogos são excelentes oportunidades de treinar essa desenvoltura.

Em competições esportivas, como o futebol, apenas um time será o vencedor e isso não significa que esse resultado será para sempre. Perder uma partida não é sinônimo de derrota e nem de fracasso irreversível. O bom resultado de um campeonato também é fruto de algumas derrotas. Quando ocorre a perda é um ótimo momento para rever a jogada e aprender, melhorar e pensar sobre como alcançar uma vitória outro dia.

E assim é em todas as competições, sejam esportivas, pessoais e profissionais. Competir não é só ganhar ou perder. Em uma disputa, muita coisa está em jogo: novas habilidades podem ser aprendidas, a criatividade pode ser melhor desenvolvida, a lembrança e o raciocínio sobre um erro pode evitar outros lances errados. Qualquer disputa se reverte sempre num aprendizado.

Na vida sempre encontraremos alguém que irá nos frustar, nos decepcionar ou que irá nos negar o que queremos. Toda existência humana é marcada pela condição de contradição, ou seja, pela fraqueza e pela queda. Aceitar a própria condição limitada é sinal de sabedoria. Aprender que a queda, os fracassos e as perdas fazem parte da vida, é aprender a ter humildade para encarar a perda como uma possibilidade de superação e motivação para seguir em frente.

Quem é incentivado apenas a vencer, nunca conseguirá lidar com a frustração. Se sentirá inferior e culpado, carregando consigo o medo de decepcionar os outros e não ser amado e admirado, apenas porque não é um eterno vencedor. Quem aprende a vencer e perder, adquire autoconfiança, tem autoestima elevada, aprende a lidar com as frustrações e sabe que, vencendo ou perdendo, será sempre amado e estimado. Quem não sabe perder, tampouco saberá celebrar com sabedoria as suas vitórias...

 





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