Tema comum da mitologia, as tragédias gregas incluem personagens que sofriam de Húbris. Castigados pelos deuses como consequência da sua transgressão, lançavam sobre eles Ate, também chamada Agne, que personificava a ruína, o engano, o erro, a tolice e a cegueira da razão que interferia no destino daqueles que não pensavam em suas ações e por isso sofriam suas consequências.
Entre os romanos era chamada também Nefas - Nefasta ou Error - o erro ou desvario. Filha de Éris - a deusa da discórdia, Ate era considerada a deusa da fatalidade e frequentemente acompanhava a Húbris, um conceito grego que pode ser traduzido como "tudo que passa da medida", a confiança excessiva, o orgulho exagerado, a presunção, a arrogância ou insolência, que frequentemente termina sendo punida. Seu conceito opõe-se à Sofrósina, que é a virtude da prudência, do bom senso, do comedimento, do reconhecimento dos limites e da medida de todas as coisas.
Quando Hera soube que nasceria um filho de Zeus e se tornaria um grande governante, Hera antecipou o nascimento de Euristeu para que ele se tornasse rei contando com a ajuda de Ate. Enfurecido, Zeus expulsou Ate do Olimpo obrigando-a a viver na terra junto aos mortais. Assim, Ate passou a percorrer o mundo causando o caos entre os mortais.
Quando Ate foi lançada à terra, ela caiu em uma montanha da Frígia e vive nos montes. Ate sempre está presente diante dos erros e das tolices cometidas devido à arrogância, imprudência ou orgulho excessivo que nos leva à destruição ou morte. Sendo uma deusa alada, ela é muito rápida e pousa, sem ser percebida, na cabeça dos mortais para perturbar-lhes a razão e induzi-los ao erro. Deusa excelsa que os homens conturba, com pés leves e funestos que a terra não roça, ao caminhar passeia sorrateira causando tropeços, principalmente sobre os mais altos enleia...
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O principal pilar da moral greco-romana desde a antiguidade, sobre o qual se assenta a moral contemporânea, é a de que a virtude está no meio. Este princípio que nasceu como teoria, foi reforçado por outros pelo ideal de moderação e garantia de tranquilidade. ?In medio est vistus? - a virtude está no meio. O caminho do meio é uma expressão usada desde os antigos mas sugere apenas que devemos evitar os extremos. Os gregos ensinavam a prudência e a moderação como um estado de espírito saudável. O oposto dessa virtude era o orgulho, a vaidade e o desejo de onipotência. "Nada em excesso", recomendavam os mestres ao contar histórias de homens e heróis castigados pelos deuses por conta de seus excessos. Da mesma forma, perpassam a existência humana dezenas de outros ensinamentos e preceitos morais com a finalidade de enaltecer a preferência pelo caminho do meio.
É preciso moderação e limites para namorar, divertir, trabalhar, comer, beber, gastar etc. No entanto, esse não deve ser o caminho da mediocridade em nome de uma pretensa segurança, prudência e comedimento, que pode levar a uma vida mediana, castrada, regrada e refreada. A esse respeito é preciso romper com o próprio mundinho e lançar o olhar para outras possibilidades, embora seja preciso ter limites. Muitas vezes é preciso romper com fronteiras que teimosamente interferem em nossa vida saudável, sem medo de ser feliz. Também podemos desejar colocar limites entre nós e o resto do mundo, mas se riscarmos uma linha na areia para que ninguém atravesse, os limites não manterão os outros do lado de fora apenas nos prenderão dentro. Podemos passar a vida traçando linhas ou atravessando-as, embora algumas linhas sejam perigosas. Mas se soubermos escolher a linha que iremos cruzar e estivermos dispostos a arriscar, a vista do outro lado pode ser espetacular... Diz a música Epitáfio dos Titãs:
"Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer.
Devia ter arriscado mais e até errado mais, ter feito o que eu queria fazer...
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração..."