Dejanira, remorso e o sentimento de culpa
Mitologia Grega

Dejanira, remorso e o sentimento de culpa




Dejanira era filha de Eneu, lendário rei de Calidon que se tornou muito solitário após a morte de sua esposa e de seu filho Meleagro. Por isso pretendia casar sua filha e ter muitos netos, tendo prometido que concederia sua filha em casamento com aquele que provasse ser o mais forte durante uma competição.

Hércules retornava de uma vitoriosa expedição e querendo esquecer a traição de sua ex-esposa Mégara, entrou na competição. Hércules lutou com vários concorrentes e venceu a todos eles. Conforme prometido, Hércules casou-se com Dejanira e foi feliz durante vários anos.

Em viagem junto com Dejanira, Hércules chegou às margens do rio Eveno cujas correntezas eram muito fortes. Ali o centauro Nesso se oferecia para atravessar as pessoas no rio montadas em seu dorso. Nesso se ofereceu para levar Dejanira até a outra margem e depois retornaria para buscar Hércules. Confiando em Nesso, Hércules colocou sua mulher sobre o dorso do centauro que imediatamente iniciou a perigosa travessia.

Ao chegar na outra margem do rio, o centauro tentou fugir com Dejanira atendendo ao pedido de Hera, a esposa de Zeus que odiava Hércules - o filho bastardo do marido. Ao ver o centauro em fuga com sua mulher, Hércules disparou suas flechas envenenadas com o sangue da Hidra de Lerna e feriu Nesso.

Ferido e agonizante, o centauro disse a Dejanira que recolhesse um pouco de seu sangue e guardasse. Caso algum dia Hércules se interessasse por outra mulher, ela deveria impregnar uma túnica com aquele sangue e mandar Hércules vesti-la. Assim, ele voltaria para ela. Hércules atravessou o rio nadando e quando chegou à outra margem, Dejanira nada comentou sobre os conselhos do centauro Nesso.

Algum tempo depois Hércules lembrou-se de cobrar uma promessa do Rei Euritos e buscou a princesa Iole pretendendo casá-la com seu filho Hilo. O rapto de Iole foi um erro de funestas consequências, pois Dejanira imaginou que o marido queria substituí-la pela jovem.

Lembrando-se das recomendações do centauro Nesso, Dejanira deu a Hércules uma túnica impregnada com o sangue do centauro que havia morrido envenenado pelas flechas de Hércules. Ao vestir a túnica, Hércules foi tomado de uma grande agonia. Sentindo que ia morrer, Hércules deu seu arco e flecha para seu amigo Filoctete revelando-lhe o poder mortal de suas armas.

Sendo um fiel amigo de Hércules, Filoctete construiu uma pira, colocou o corpo de Hércules sobre ela e dedicou ao grande heroi todas as honras fúnebres. Quando o fogo baixou, a fumaça não formava mais que um tênue véu. Todos se espantaram ao ver que não sobrara sequer cinzas de Hércules. Filoctete convenceu-se que Zeus tinha elevado Hércules para junto dos imortais. Dejanira compreendeu o grande mal fizera ao marido e morreu de pesar. No entanto, o grande e poderoso heroi tinha partido para sempre...

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O mito de Dejanira envolve duas questões básicas que nos servem para reflexão: o remorso e o sentimento de culpa. Todos nós estamos sujeitos a dizer ou fazer algo que pode ter consequências trágicas e destrutivas, seja para os outros quanto para nós mesmos. Mesmo que seja um ato surgido num momento de raiva, desespero, ciúmes, inveja ou num estado de embriguez, não podemos negar que somos culpados.

Uma pessoa que sente culpa logo se condena, sente remorso e se sente indigna de ser feliz. Reconhecer um êrro é salutar porém destruir-se por causa dele é apenas outro êrro. O arrependimento por um mal causado a alguém só se torna real quando é reparado e não apenas lamentado. Arrepender não apaga o que foi feito, mas a reparação se torna construtiva.

Embora não seja uma regra geral, faz parte da vida aprender através de experiências dolorosas desde que elas nos sirvam como lições para o desenvolvimento pessoal. Apesar da crença comum em contrário, a experiência da culpa não é totalmente negativa, improdutiva e destrutiva. Da culpa podemos aprender a enfrentar a vida por outra perspectiva.

Nada é permanente, tudo muda, tudo pode ser mudado. A vida é uma sucessão mudanças. Quando adotamos uma nova postura, olhamos para as infinitas possibilidades e conquistas que estão à nossa espera que podem determinar um novo rumo de vida. Rever nossas escolhas e ações deve servir para nos autotransformarmos e nos tornarmos melhores. Quando mudamos os nossos pensamentos, muda o nosso modo de olhar o mundo e, em consequência, o mundo à nossa volta muda também.






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