Dríope e o autoengano
Mitologia Grega

Dríope e o autoengano



Dríope e Andraemon era um casal que estava feliz com o nascimento de seu primeiro filho. Certo dia Dríope saiu com seu filho pelo bosque junto com sua irmã Iole e enquanto caminhavam pela margem de um rio avistaram muitas flores. Apesar de saberem que os bosques pertenciam às ninfas, elas tiveram a ideia de colher flores.

Carregando o filho no colo, Dríope viu perto da margem do rio um lótus que crescia, repleto de flores cor de púrpura. Dríope colheu algumas flores quando percebeu que o sangue escorria da haste de uma flor. Horrorizada Dríope quis fugir mas imediatamente sentiu que não podia mover seus pés que começaram a enraizar-se no solo. Aos poucos foi sentindo que seu corpo se tornava endurecido como madeira.

Iole contemplava o triste destino de sua irmã que aos poucos se metamorfoseava numa árvore. Gritando por ajuda veio Andremon em seu socorro, mas nada mais podia fazer. A flor que Dríope havia ceifado do jardim era a ninfa Lótis que fora metamorfoseada quando fugia de um perseguidor. 

As últimas palavras de Dríope foram direcionadas à irmã para que tomasse conta de seu filho recomendando que ele fosse cauteloso ao andar pelas margens do rio ao colher flores, pois em cada moita de arbustos poderia haver uma ninfa enfeitiçada...
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O mito de Dríope simboliza o autoengano, a pior mentira que contamos para nós mesmos. A todo momento estamos lidamos com a realidade, mas por ingenuidade ou conveniência vemos apenas o que queremos ver, embora o que parece de fato pode não ser o que aparenta.

Tudo no mundo tem forma, ocupa um lugar no espaço e tempo, apresenta textura, consistência, cheiro e cor que marca sua presença no mundo e o distingue. É a aparência que os seres utilizam para influenciar o meio com o qual se relacionam. Com a aparência pode-se seduzir, atrair, aproximar, inibir, afastar, provocar medo ou proteger-se. Essa é uma estratégia inteligente dos seres animais, vegetais e minerais. 

As flores seduzem os insetos com suas cores e perfumes, pegando carona em suas asas para enviar seu polém e sementes para outros lugares distantes e assim garantir a perpetuação de sua espécie. Pássaros cantam, usam sua plumagem e dançam para atrair as fêmeas para o acasalamento. Há também aqueles que usam disfarces, como os leões que exibem suas jubas para determinar poder, força e superioridade.

Alguns animais, tal como o camaleão, se adaptam às cores do ambiente para confundir o seu predador. E até mesmo os seres inanimados tem essa característica de esconder sua verdadeira essência, por exemplo, uma rocha que não mostra as pedras preciosas em seu interior. Ou seja, é da natureza tentar enganar ou confundir os outros através da aparência.

A análise dos fenômenos da aparência existentes na natureza, ganha contornos mais complexos no ser humano. Somos especialistas na arte de enganar pela aparência. Utilizamos maquiagens, escolhemos uma roupa apropriada à ocasião, treinamos a postura, a forma de falar, o que dizer, como dizer, utilizamos próteses e perfumes etc. Em tudo isso há sempre a intenção de causar impressão. O ditado popular: ?a primeira impressão é a que fica?, demonstra o poder que a aparência exerce.

Na maioria das vezes somos manipulados pela aparência das coisas e algumas vezes tendemos a agregar qualidades que não existem, somente para ajustar às nossas crenças e intenções. S
omos espertos o suficiente para enganar a nós mesmos, vemos apenas o que queremos ver e usamos os nossos mecanismos psicológicos de defesa. 

Temos uma extraordinária capacidade de mentir com sucesso para nós mesmos, seja para manter viva a chama da vida, seja para nos autoproteger. Na verdade certas feridas nunca cicatrizam, grandes sonhos nunca morrem, decepções nunca são esquecidas e medos permanecem vivos. Quando sofremos algum trauma durante a vida, o subconsciente nunca esquece mas a consciência recusa-se a lembrar. 

Uma dose de fantasia e devaneio é saudável para nossa criatividade, entretanto se for constante pode nos acostumar a um mundo irreal dificultando nossa capacidade de enfrentar a realidade. A ninfa Lótis tentou esconder de seus perseguidores na forma de uma flor, mas se esqueceu que nos jardins haverá sempre aqueles que virão colher flores. Assim são os nossos traumas, tentamos escondê-los mas quando menos esperarmos algo ou alguém virá despertá-los e trazê-los à luz da consciência. 







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