Hárpias e as paixões arrebatadoras
Mitologia Grega

Hárpias e as paixões arrebatadoras




As Harpias, que significa arrebatadoras, eram criaturas representadas ora como formosas e sedutoras mulheres com longas unhas, ora como terríveis monstros com corpo de ave de rapina, rosto de mulher e seios. Elas raptavam o corpo dos mortos para usufruir de seu amor, por isso eram representadas nos túmulos como se estivessem à espera do morto, sobretudo dos jovens para arrebatá-los. Eram crueis e violentas, sendo relacionadas aos ventos destruidores, aos ciclones e às tormentas.
  • Celeno, considerada a mais malvada de todas, era também chamada de Podarge. Seu nome em grego significa "a obscura".
  • Aelo era comandava a sujeira e seu nome em grego significa "a borrasca".
  • Ocípite era aquela que atacava e seu nome significa em grego "a rápida no vôo".
Por onde passavam, as hárpias causavam a fome arrebatando a comida das mesas e espalhando um cheiro pestilento que ninguém conseguia retornar por onde elas tivessem passado. Difundiam a sujeira e doença; era inútil afugentá-las pois elas voltavam sempre. Hades, o deus do inferno, contava com a ajuda delas para levar-lhe os mortos. Zeus e Hera serviam-se delas para punir aqueles que os contrariassem.

Com a queda de Troia, Afrodite aconselhou seu filho Eneias a deixar a cidade levando sua família, pois lhe estaria reservado o destino de fazer reviver a glória troiana em outras terras. No entanto, Hera ainda não havia esquecido das tramas de Afrodite que levou à destruição de Troia. Quando Enéias e seus companheiros viajavam em busca de novas terras, ao pararem na Ilha das Hárpias eles mataram alguns novilhos. As Hárpias iniciaram um terrível ataque roubando-lhes as carne e os amaldiçoaram lançando-lhes terríveis profecias.

As hárpias também foram enviadas por Zeus para punir o Rei Phineu. Ele havia recebido de Apolo o dom da profecia com a recomendação de que jamais deveria revelar os segredos dos deuses do Olimpo. No entanto Phineu ignorou a recomendação e como castigo Zeus tirou-lhe a visão e enviou as Harpias para perseguí-lo.

Quando Phineu e seu reino estavam prestes a morrer de fome, os Argonautas chegaram e expulsaram as Harpias libertando-os do tormento que elas causavam. Como elas eram imortais, foram combatidas principalmente por Zetes e Calais, os filhos do vento. Diante de suas forças, elas fugiram e se refugiaram na Ilha de Creta prometendo não mais atormentar Phineu.

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O mito das harpias pode ser relacionado ao comportamento compulsivo e às paixões obssessivas; por onde passam deixam um rastro de destruição. As compulsões são hábitos adquiridos para aliviar uma ansiedade ou necessidade de gratificação emocional, levando a um esforço frequente e excessivo para proporcionar um prazer imediato e passageiro ou aliviar um desprazer. Logo depois vem o remorso por não ter resistido ao impulso de realizá-lo, mas mesmo assim se torna repetitivo.

Não há uma causa para a ocorrência de comportamentos compulsivos. Pode-se dizer que seja uma predisposição devido a hábitos aprendidos na infância ou vivências do passado. Importante é perceber os danos físicos, psicológicos e sociais que tal comportamento provoca.

As compulsões se manifestam nas pessoas que compram compulsivamente, ainda que não tenham condições de pagar ou naquelas que comem compulsivamente mesmo sem ter fome. Outros praticam exercícios físicos em excesso e se preocupam excessivamente com peso ou com o corpo etc.
Há diversas outras manifestações e com a repetição, a pessoa torna-se dependente dessas atitudes e até sente desconforto quando não age assim.

Alguns buscam o alívio do desprazer das emoções de angústia e ansiedade, do afastamento de pensamentos incômodos. Essa busca pode levar ao consumo exagerado de drogas. Muitas vezes, as pessoas privadas de suas atitudes compulsivas podem apresentar os mesmos sintomas provocados pela abstinência de drogas: tremores, sudorese, taquicardia etc.


Os compradores compulsivos se tornam viciados e dependentes das compras; precisam comprar sem limites para se sentir bem naquele momento mesmo que se arrependa depois. A pessoa compra não pela necessidade do objeto mas pelo impulso de comprar. Perdendo a noção de realidade, com o tempo perde o controle e comete verdadeiras loucuras.

O jogador compulsivo não analisa se vai ganhar ou perder, ele quer ação. Ele vive planejando as jogadas e na sua busca por ação, faz apostas cada vez maiores para continuar produzindo excitação. Está sempre na expectativa de ganhar e essa sensação acaba por tornar-se a sua única fonte de prazer. Em consequência, ele encontra dificuldade de parar de jogar compulsivamente, gastando o que tem e o que não tem, perdendo a noção da realidade.

Aqueles que se submetem excessivamente aos padrões de beleza, agem compulsivamente levando à obssessão pela perfeição ou beleza física. A pessoa inicia um complexo de estar em desacordo com os padrões desejáveis o que pode levar a um excesso de exercícios resultando em prejuízos à saúde. A obssessão por um corpo malhado e sarado pode levar até mesmo à ingestão de substâncias para aumentar a massa muscular ou emagrecer.

Do outro lado, estão os transtornos alimentares. Existem aqueles que comem compulsivamente, mesmo sem ter fome. São pessoas que não conseguem resistir ao vício de comer e o que deveria ser um prazer torna-se uma angústia. Na preocupação com a estética e perfeição do corpo, podem terminar por desenvolver bulimia ou anorexia porque distorcem a realidade ao ver-se no espelho.

Outro tipo é o trabalhador compulsivo. Embora o esforço no trabalho possa levar ao sucesso profissional e à realização financeira, alguns desenvolvem uma compulsão pelo trabalho de forma a ocupar o espaço de sentimentos e pensamentos difíceis de serem vivenciados, tais como problemas familiares e conjugais. E ainda que sofra com sua situação, o workaholic usa o trabalho como um escudo e termina por restringir sua vida no trabalho, sem tempo para distrair. Consequentemente, a pessoa se torna severa, isolada, inflexível, perfeccionista, amarga, exageradamente realista e de difícil convivência.

Mas um dos comportamentos mais perversos talvez seja a do conquistador compulsivo que sofre da Síndrome de Dom Juan, o lendário sedutor do século 17 que teve mais de mil mulheres sem amar nenhuma. Essa compulsão por sedução, que pode se manifestar tanto em homens como em mulheres, leva em conta a atração fugaz, o envolvimento sexual fácil mas fracassa no envolvimento emocional, determinando relacionamentos íntimos pouco duradouros.

A pessoa com essa síndrome é excessivamente sedutora. Embora suas conquistas sejam muito mais eficientes com pessoas carentes de afeto, com uma baixa auto-estima, ingênuas, sugestionáveis e influenciáveis, em geral os sedutores compulsivos tem como alvo as pessoas consideradas difíceis ou proibidas tal como pessoas casadas ou comprometidas, mais velhas ou muito mais novas, ou que por algum motivo represente um desafio, um relacionamento perigoso ou impossível.

Sendo um comportamento mais proeminente nos homens, o conquistador compulsivo é o tipo de propaganda enganosa: simula romantismo, diz exatamente o que a mulher quer ouvir, dispensa-lhe toda sua atenção como se não existisse mais ninguém no mundo. Quem já conheceu um, conheceu todos. Esse é um tipo tão maravilhoso que parece bom demais para ser verdade e pode acreditar, não é verdade mesmo.

A idéia é iludir e levar a mulher a acreditar que encontrou um homem diferente dos outros. Ele é capaz de insistir por meses até conseguir o que quer e quando consegue seduzir, que não precisa necessariamente envolver sexo, ele perde o interesse, desaparece e até troca de celular para não ser encontrado. O tipo sedutor retira prazer e satisfação apenas do processo de conquista, que lhe provoca excitação e sensação de euforia por um breve período de tempo.

Como um dependente químico, está sempre precisando de uma nova dose para se manter ligado, tem necessidade de seduzir. Pode até parecer inabalável, mas sofre por ser como é. Nunca terá a certeza de que é feliz precisando repetir seu ritual indefinidamente. Depois de alguns anos, percebe que não conseguiu construir nada. Se serve como vingança, o futuro do devorador de mulheres costuma ser a solidão...





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