Mitologia Grega
Nêmesis, a justiça divina
Nix, a noite acima da terra, unindo a Érebus criou Éter - a luz atmosférica e Hemera - a luz do dia. Desdobrando-se sozinha, Nix gerou divindades como as Hespérides, as Moiras, Éris, Lete e Nêmesis. Quase todos os descendentes de Nix foram abstrações personificadas como Nêmesis, que simboliza a indignação pela injustiça praticada e a punição divina diante do comportamento desmedido dos mortais. Os romanos a qualificavam como a inveja. Sua função essencial era restabelecer o equilíbrio quando a justiça deixa de ser praticada. No significado da palavra, em grego significa distribuir; assim Nêmesis é a justiça distributiva.
Quando Gaia entregou Temis aos cuidados das deusas do destino, Temis e Nêmesis passaram a ser criadas juntas no Olimpo, tendo atributos em comum. Têmis tornou-se a personificação da ética e Nêmesis a personificação da vingança divina. Em Ramnunte localizava-se o templo de Nêmesis, onde havia uma estátua das duas deusas juntas. Quando os persas tentaram tomar a cidade de Atenas, Nêmesis interferiu encorajando o exército ateniense, pois os persas demonstram demasiada confiança na vitória, considerado sinal de desmesura - Hibrys.
Nêmesis representa a força encarregada de abater toda a desmesura - Hibrys, como o excesso de felicidade de um mortal ou o orgulho dos reis em sua supremacia, etc. Essa é uma concepção fundamental do espírito helênico: tudo o que se eleva acima da sua condição, tanto no bem quanto no mal, expõe-se a represálias dos deuses. Tende, com efeito, a subverter a ordem do mundo, a pôr em perigo o equilibrio universal e, por isso, devia ser castigado para garantir que o universo se mantivesse como era.
A palavra Nêmesis originalmente significava "distribuição da sorte", nem boa nem má, simplesmente, na proporção devida a cada um segundo seu merecimento. Poderia também ser o ressentimento quando alguém sofria por uma atitude alheia e Nemêsis não permitia que o ofensor passasse impune. Nas tragédias gregas, Nêmesis apareceu principalmente como o vingadora do crime e castigadora da arrogância, assemelhando-se às Erínias.
Alguns a chamavam de Adrastéia que significa "aquela de quem não há escapatória". Como deusa da devida proporção e equilibrio, ela punia toda transgressão dos limites da moderação e restaurava a normal e boa ordem das coisas. E ao punir a ostentação desenfreada, ela se tornou uma divindade de castigo e vingança. Ostentando uma espada que representa a justiça, traz nas mãos uma ampulheta que adverte que a justiça pode demorar, mas é certeira. Por isso, muitas vezes é relacionada ao karma.
Nêmesis era também chamada "a inevitável". Atualmente, o termo Nêmesis é usado para descrever o pior inimigo de uma pessoa, normalmente alguém ou algo que é exatamente o oposto de si mas que é, também, de algum modo muito semelhante a si. É algo como o seu arquiinimigo, algo que o anula, mas nutre-lhe um grande respeito e admiração.
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Jung, médico suíço, foi um dos discípulos prediletos de Freud até se tornar um herege da psicanálise. Jung criou a psicologia arquetípica ou os modelos, padrões recorrentes e fixos que variam na forma, mas se repetem no conteúdo subjacente, mudam na superfície, mas não nos alicerces, mantendo a mesma essência com variadas máscaras. Dois dos muitos arquétipos são a híbris e a nêmesis.
A híbris é a arrogância do poder; a nêmesis é a punição dessa arrogância. Elas estão presentes quando a natureza pune a pretensão dos que se acham poderosos o suficiente para manipular o mundo e a vida a seu bel prazer. Às vezes é possível ser híbris e nêmesis ao mesmo tempo, provocando reações mistas.
É compreensível que tenhamos orgulho das nossas conquistas resultantes dos nossos esforços, representada pela hybris. Porém, quando isso se torna motivo de soberba, com certeza veremos as nêmesis chegando até nós através dos que se afastam ou nos condenam diante da nossa reprovável arrogância e prepotência. Isso se aplica às pessoas, às nações, times de futebol e qualquer outro que tenha excesso de confiança, esquecendo que o equilibrio está na moderação. A arte imita a vida, e o filme Titanic expressou isso muito bem; um iceberg foi a nêmesis que causou o naufrágio do navio considerado inaufragável...
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