Satiros, Egipãs e silenos, o bode expiatório
Mitologia Grega

Satiros, Egipãs e silenos, o bode expiatório




Os Sátiros, Egipãs e Silenos eram ardentemente cultuados pelos pastores e agricultores gregos, que faziam ofertas de animais e produtos da terra. Os sátiros, em grego Sathê que significa pênis, eram divindades menores da natureza com aspecto de homens com cauda e orelhas de asno, barbas longas e grandes órgãos sexuais frequentemente exibidos em ereção. Tinham um apetite sexual insaciável, assim como a voracidade para o vinho e a embriaguez. Eternos perseguidores das ninfas, a permanente sensualidade dos Sátiros revelava sua vigorosa forma física.

Filhos dos Curetes e das Hecatérides, irmãos das Oreades, eles viviam nos campos e bosques perseguindo as ninfas, principalmente as Mênades, como também aos homens e mulheres que a eles se juntavam no cortejo de Dioniso. Caracterizados por uma bestialidade, de gênio preguiçoso, covardes e movidos pela sensualidade, os Sátiros se divertiam aterrorizando os pastores e os viajantes, mas, ao mesmo tempo, protegia-os das feras dos bosques, assim como protegiam os seus rebanhos.

Com o tempo passaram a ser descritos como dóceis, maliciosos, travessos, amantes da música e da dança. Com uma nova imagem, os Sátiros passaram a ser representados com as orelhas pontiagudas, pequenos chifres e os pés caprinos. Apesar de serem divinos, eles não eram imortais mas normalmente eram-lhes consagrados o pinho e a oliveira.

O mais famoso dos Sátiros foi Pã, o deus pastor, filho de Hermes e da ninfa Dríope. Segundo a lenda, Dríope rejeitou o filho tão logo nasceu por não aceitar a sua forma híbrida. Hermes levou-o para o Olimpo onde foi criado. Por seu jeito alegre, logo conquistou a simpatia e a afeição de todos os deuses, sendo chamado por eles de Pã, que em grego significa O tudo. Vivendo errante pelas montanhas e pelos vales, Pã se tornou o deus dos rebanhos e em torno dele viviam os gênios campestres e os espíritos dos bosques. Além de pastor, Pã dedicava-se à música.

A origem do mito vem da Arcádia, lugar montanhoso, que tinha como riqueza apenas a criação de cabritos e carneiros. Pã era um deus secundário representado pelo corpo coberto por pêlos negros, chifres na cabeça e patas de bode. Devido à sua fisionomia, Pã teve muitas desventuras amorosas. Os Egipãs eram descendentes diretos do deus Pã e também tinham os corpos peludos, chifres e pés de cabras. Nascidos da união de Pã e a ninfa Ega, eles foram concebidos numa noite de embriaguez dos pais. A eles são atribuídos o som que se ouve nas conchas do mar, que se transformou num instumento de sopro. Por isso tornaram-se considerados gênios das águas.

Os Sátiros compunham o cortejo de Dioniso, deus da luz e do êxtase, que foi perseguido por Hera mesmo antes de seu nascimento. Dioniso foi criado por Sileno e quando cresceu, ele foi convocado por Zeus para viver na terra junto aos homens. Dioniso compartilhava com os mortais das alegrias e das tristezas, mas foi atingido pela loucura de Hera e passou a perambular pelo mundo atraindo seguidores como os sátiros, os loucos e animais. Dioniso deu à humanidade o vinho e suas bençãos, concedeu o êxtase da embriaguez e a redenção espiritual a todos que decidiam abandonar suas riquezas e renunciar ao poder material.

Dezoito sátiros eram servos de dioniso: Pomenio, guia dos pastores - Thiaso, guia dos seguidores - Hipcéros, o grande chifre - Oréstes, guia nas montanhas - Flégraios, a paixão ardente - Napeus, guia nos vales - Gemon, era o carregador - Licos, o fanático e foi transformado em lobo - Fereus, guia das bestas - Petreu, guia nos rochedos - Lamis, o guia das covas - Lenóbios, o guia pisador das uvas - Ecirtos, guia satador - Oistros, guia frenético - Pronomios, guia da pastagem -Férespondo, guia das bestas - Ampelos, guia da videira - Cisseus, guia da coroa de heras.

Apreciando a alegria de Dioniso, o vinho, a música e as orgias, os Sátiros o seguiam dançando ao som de flautas, dos címbalos, castanholas e gaitas de foles. Junto também seguiam as Ninfas, os Silenos e as Bacantes carregando troncos de videira, coroas de hera, taças cheias de vinho, cachos de uva e o tirso enlaçado com folhagens. As Bacantes ou Mênades eram as jovens que tomadas por loucura mística, pareciam tomadas pelo deus. Em sua jornada Dioniso castigava severamente todos aqueles que se recusassem a cultuá-lo.

Com grande habilidade de envolver as pessoas, algumas vezes muito teatrais, os Sátiros usavam de sua forte sensualidade como fator de atração. Muito autoconfiantes, não se deixavam afetar pela oposição às suas ideias ou suas ações. Concentrados em seus objetivos, se distinguiam porque acreditavam no seu poder de persuadir as pessoas e na sua capacidade de liderança.

Os Sátiros envelhecidos eram chamados de Silenos, isto porque Sileno era o líder ou pai dos sátiros e silenos, representado calvo e barrigudo, montado num burro onde se equilibrava com dificuldade devido à sua constante embriaguês. Sileno era um descendente de Pã e foi encarregado de tomar conta de Dioniso que o criou junto dos seus filhos Astreu - o brilho estelar, Maron - o cinza puro e Leneus - o vinho forte.

Quando Dioniso cresceu, Sileno se estabeleceu na Arcádia. Seu caráter jovial e brincalhão atraiu a simpatia e o afeto dos pastores, que construíram um templo dedicado a ele. Com sua coroa de hera e uma taça de vinho nas mãos, Sileno era carregado pelos sátiros durante os cortejos e as ninfas admiravam sua bondade. Durante seus momentos de sobriedade, Sileno se tornava grande profeta e sábio. Ele tinha o dom de prever o futuro, porém só revelava a verdade quando estava embriagado sob os efeitos do vinho.

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As estranhas e fascinantes criaturas mitológicas, com a dualidade do seu corpo traduziam a essência da evolução da civilização humana, muitas vezes racional, outras vezes meramente animal. Esse misto humano-animal era comum na mitologia grega e muitas vezes simbolizava exatamente algum aspecto animal da natureza humana. Comumente associados a Dioniso, os Sátiros estão relacionados ao lado instintivo do ser humano.

O mito dos Sátiros está relacionado ao desejo desenfreado, a todos os tipos de excessos e às forças incontroláveis da natureza animal e vegetal. Eles eram a personificação da vitalidade animal, se distinguiam pela impulsividade e eram ligados à luxúria, ao êxtase, sexo e embriaguês. Dos sátiros derivam os termos satirismo ou satiromania, que significa o desejo sexual excessivamente forte nos homens ou uma insatisfação sexual que leva a uma compulsão sexual, assim como a ninfomania está relacionada à insatisfação sexual da mulher.

O êxtase está relacionado à modificação da consciência através de uma experiência que leva a um estado de total ausência de sofrimento, um despreendimento do mundo material que corresponderia a um absoluto sentimento de prazer, orgasmo ou estado de transe. E por derivar-se de uma palavra grega ékstasis, poderia se ter como padrão o transe profético e visões.

Os sátiros apareciam obrigatoriamente nos dramas satíricos, peças leves que o teatro grego apresentava como complemento e alívio cômico de uma trilogia trágica em honra de Dioniso. Nos dramas satíricos, os heróis são sérios mas seus atos são satirizados por comentários irreverentes e obscenos dos sátiros. No entanto, a sátira não está etimologicamente relacionada aos sátiros pois provém do latim, uma mistura de prosa e verso, um gênero satírico ou também satura, um prato cheio de vários tipos de frutos reunidos, abundante, uma saturação.

Na mitologia grega, o bode era associado à depravação, considerado um animal lascivo e desprezível. Hoje tem o simbolismo do bode expiatório, algo ou alguém sobre a qual projetamos o lado inferior de nós mesmos para nos livrarmos da culpa ou culpamos por nossos problemas. Pã mora no domínio mais inacessível do inconsciente.

Os romanos identificaram os sátiros gregos com o deus Fauno e com os faunos. Suas características eram originalmente diferentes, mas a literatura e a arte clássica da Europa moderna trataram os dois termos como sinônimos e misturaram suas características. Os faunos tinham aspecto animalesco mas eram de comportamento digno. Nas traduções do Antigo Testamento, o termo sátiro é às vezes traduzido como demônios ou bodes. No folclore dos antigos hebreus, se'irim era um tipo de daimon ou ser sobrenatural que habitava lugares desolados.




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